sábado, agosto 01, 2009

A cidade e as gentes

Cada vez mais tenho a certeza que, por mais impressionantes que sejam os locais e as paisagens, são as pessoas e as circunstâncias que as torna especiais (ou não!) .
A quase 24 horas de distância da última golfada de ar parisiense começo a olhar para os 2 meses passados e são diversos os pensamentos que me atravessam o espírito.
Paris é, sem dúvida, uma cidade brutal. Monumental, grande, grandiosa! Vi algumas das coisas esteticamente mais interessantes da minha vida. Mas nestes tempos que começam a ser de balanço, é das gentes - mais do que da cidade - que me apetece falar. Em Paris, as pessoas, na minha opinião, estragam a cidade. Em conversa com um norte-americano que vive lá há 5 anos, ambos concordamos que, as gentes tiram a Paris, pelo menos, metade do seu charme potencial. Uma parte das pessoas é antipática, a maioria é ostensivamente indiferente e o resto, quase sempre, é de uma simpatia forçada e politicamente correcta que incomoda tanto ou mais que as outras duas posturas descritas.
Na capital francesa consegue-se uma mistura explosiva entre os tiques tipicos das cidades que não dependem da têmpera das gentes para prosperarem (têm sucesso garantido à custa da cidade em si) e um franco-francofonismo autista como eu nunca pude imaginar ser possível. Os franceses estão tão convencidos da sua importância no mundo (coisa que nem me custa nada conceder-lhes) e de uma suposta supremacia cultural e civilizacional que ficam cegos e surdos para todo e qualquer contributo que possa vir de fora. Sim, não se iludam com o suposto multiculuralismo e o ar cosmopolita superficial da grande cidade que isso é, a meu ver, muito mais fruto de uma imposição exterior e de uma espécie de rendição por cansaço ou constatação da inveitabilidade do que propriamente de abertura e interesse por outras culturas. Falo claro, do francês "médio" ao qual tive acesso e não de elites mais ou menos numerosas que existem em qualquer parte do mundo.
De facto Paris, cidade-luz e a todos os níveis majestosa, acaba por perder com os vícios da sociedade que lhe dá vida. Fica aquem da cosmopolita Londres, não tem a movida de Barcelona nem se respira a classe que se sente, por exemplo, em Viena, para citar algumas das cidades que visitei recentemente.
Por tudo isto, e por muito mais que fica por dizer, vejo subir a convicção que são as gentes que fazem a diferença.
Para mim foi a falta das gentes que ficaram pelo Porto, foi a enorme luta para que as gentes no trabalho notassem a minha presença física (já para não falar na intelectual) e o convívio com as gentes anónimas de Paris que fizeram a diferença, para pior, na capital francesa. Mesmo assim só posso aconselhar a visitarem, vale muito a pena! Quanto a viverem lá, já teríamos que ter outra conversa.
Palavra final para as gentes que conheci na Maison du Portugal. Foi óptimo tê-los conhecido. Parti com a clara sensação de que poderiamos ter construído amizades muito interessantes se tivessemos tido mais tempo. De qualquer forma, sei que se semeou qualquer coisa de frutífero nestes 2 meses mal medidos de convívio. Para além disso, a vida não acaba em Paris e o Mundo, como tivemos várias hipóteses de constatar, é um lugar mesmo muito pequeno...

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2 Comentários:

Às 3:13 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Para darem conta da tua existencia no hospital bastava algo muito simples: Cantares!!

 
Às 4:49 da tarde , Blogger Unknown disse...

São mesmo as pessoas que nos prendem. Eu não conheço Paris, uma cidadezinha do interior do nordeste brasileiro me prende e a ela sempre volto feliz por causa das pessoas de lá. Lá me sinto em casa, acolhida. Espero um dia conhecer Paris e se for vou bem acompanhada para não sofrer com essa petulância. Mas sabe de uma coisa essa arrogância indistinta dos franceses deve ser direcionada em outros países europeus. Digo, em relação à origem de alguns visitantes talvez?
Agradável descoberta esse seu blog.

 

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